"Tabelião, escrivão e até juiz: o ofício da escrita em Loulé em finais do século XIV e século XV "

Na época medieval, a escrita e o documento começam a tornar-se elementos fundamentais do quotidiano, promovendo uma transição da oralidade à escrita e auxiliando o crescendo burocrático dos governos centrais e locais. Nas cidades e vilas começam a surgir cada vez mais ofícios relacionados com a escrita. Porém, com estas profissões surgem também poderes sociais e profissionais, redes clientelares e relações entre indivíduos e instituições que merecem uma análise pormenorizada. Se nas grandes cidades, como Lisboa, o ofício tornou-se muitas vezes numa graça régia, nas vilas ou cidades mais pequenas, face ao número diminuto de conhecedores da arte da escrita, com frequência havia cúmulo de funções num mesmo indivíduo que era assim não só tabelião e escrivão, mas muito mais. A presente comunicação tem desta forma como propósito dar a conhecer os agentes da escrita de Loulé de finais do séc. XIV e séc. XV, nomeadamente conhecendo a acumulação de poderes que estes homens, pelo seu saber especializado, conseguiam adquirir, tonando-se não só tabeliães, como escrivães do concelho, juízes, procuradores, almotacés, almoxarifes, quadrilheiros, ouvidores, vereadores, taxadores, chanceleres, entre outras funções. Além disso, pretende-se compreender quem ocupa os cargos em análise, sendo que se destacam alguns nomes que aparentemente terão ligações familiares. A exploração destas informações e o desenvolvimento de conclusões é conseguido através dos vários registos que o Arquivo Municipal de Loulé tem hoje em dia ainda à sua guarda, que nos dão uma mais-valia de informação e conhecimento da idade média naquela cidade algarvia, permitindo extrapolar conhecimento sobre a organização municipal e concelhia e sobre o tabelionado e a escrivaninha, para as restantes vilas e cidades do reino